segunda-feira, 4 de julho de 2011

Estado e Igreja

Formalmente na modernidade os assuntos políticos e públicos, isto é, os assuntos de Estado, não podem sofrer nenhuma mistura com os assuntos religiosos, ou seja, com a Igreja. A isso dá-se o nome de Estado laico, ou, laicidade. Já o laicismo é um movimento histórico, datado em torno do século XVI que tem a ver com questões relativas a participação do leigo no governo da Igreja.
Na prática, porem, a Igreja interfere diretamente nos assuntos públicos e políticos. Há uma gama de temas que começa com o aborto, passando pela homofobia chegando até aos transgêncios e aos usos terapeuticos e genéticos das celulas-tronco, nos quais a Igreja interfere. O contrário não se vê, isto é, o Estado interferindo nos assuntos das Igrejas.
É verdade que entre as denominações religiosas existe muitos conflitos e falta de unidade na abordagem dos temas elencados à cima. Mesmo no caso do aborto, temos divergencias porque há grupos de religiosos que entendem defender a liberdade da mulher na escolha do ato de ter ou não filho, mesmo quando já grávida. O corpo da mulher apenas a ela lhe pertence.
Não é essa a posição da maioria dos cristãos. Todavia, a questão é: Por que a Igreja continua, não apenas se posicionando sobre assuntos públicos, mas tendo forte lobbi na condução de certas decisões?
É óbvio que o crente é um cidadão como outro qualquer. Logo ele deve sim ter a sua opinião respeitada quando se trata de formação de leis que podem vir a ferir os seus valores. Nesse caso podemos fazer uma distinção entre o cidadão cristão que se posiciona diante de temas conflituosos a partir de valores apreendidos na Igreja, da posição forte e política da instituição Igreja. Uma coisa é o cidadão e outra diferente é a instituição Igreja. O cidadão vota e opina a partir de seus valores religosos, culturais e políticos. Já a Igreja, além de defender os valores cristãos no cenário público, atua nos bastidores da formação politica dos blocos de poder. A Igreja é uma instituição também política extremamente atuante. O seu poder político prova que a laicidade existe apenas formalmente, dentro de certos limites estreitos, pois na pratica a Igreja é muito poderosa.
Historicamente a Igreja sempre atuou politicamente, seja apoiando regimes políticos ou combatendo certas orientações de governo tidas como contrárias aos costumes e valores cristãos. A Igreja tem muita força política. E seria utopia acreditar que a Igreja não interfere nos assuntos públicos. Porem, até que ponto os legisladores, os juizes de tribunais e os governantes devem ouvir e aceitar as posições da Igreja, no momento de tomar as suas decisões? Temos visto que até durante os processos eleitorais a Igreja tem um peso forte. Foi o caso do ajuste que a candidata Dilma fez com a CNBB sobre o tema do aborto. Ela simplesmente negou o que ela própria pensava e o PT, para aceitar literalmente a posição dos bispos sobre o aborto. E o fez porque sabia que sem o apoio da Igreja a sua eleição poderia sofrer baixas fortes. Ouso dizer que um canditado a presidente sem o apoio dos cristãos dificilmente se elege no Brasil, quiça em outros tantos países ocidentais ou mesmo orientais.
Mesmo no STF quando da decisão sobre permitir ou não as pesquisas com as celulas-tronco, que envolvia definições filosóficas sobre quando começa a vida, mesmo alí, prevaleceu a posição cristã de que o feto, não importando o seu tempo de formação, desde que em gestação, já é vida e assim não poderia ser sacrificado ou usado como material genético de pesquisa.
Se o todo poderoso Supremo Tribunal Federal sofre forte pressão da Igreja, então o que dizer dos prefeitos e Governadores, deputados e vereadores, juizos estaduais e conselheiros de Conta? Mas, seria isso adequado ao regime democratico que prevê que as decisões políticas e os assuntos públicos devem ser tratados de forma distante das injunções religiosas?

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