terça-feira, 5 de julho de 2011

Há Espaço no Mundo Atual Para a Sedução dos ideais Revolucionários?

O mundo vive hoje inúmeras perspectivas de transformações, e ao mesmo tempo temos várias linhas de acomodação de regimes de governo dentro de um quadro de tradição de cultura política.
No Oriente Médio velhas ditaduras estão em vias de serem substituídas por outros regimes. Mecanismos modernos de comunicação, como as mídias sociais na internet, foram as protagonistas que permitiram uma resistência virtual na rede, aos poucos o movimento foi crescendo e transformando no que é hoje. A Líbia, a Síria, o Egito..., muitos países da região apresentam o cansaço de seu regime e a multidão clama por mudanças, por novos tempos.
A China se moderniza, mas não demonstra enfraquecimento de seu regime. No Rússia a democracia se acomoda a velhos valores da cultura política do país, que mantém vivo os ideais de um estado forte e um regime coletivista.
Na Europa é a crise econômica que faz renascer antigos ideais de revolução, mas que são rapidamente apagados e sustados por conta do apoio politico e econômico dos mais ricos. A questão é saber se a crise é tão forte a ponto de influenciar a população a tomar atitudes revolucionárias pro-ativas. Na Grécia e na Espanha, os movimentos libertários ganham espaço nas mídias sociais por conta, talvez, do próprio cansaço dos valores que sustentam os ideais de democracia, igualdade e bem estar sociais.
Entretanto, o consenso político e econômico da comunidade europeia é forte o bastante para não permitir que os países membros, quando em crise, sejam desestruturados podendo ser seduzidos por ideais que possam vir a lançar o país para fora do sistema capitalista. A estabilidade e a prosperidade do continente são defendidas com unhas e dentes, os lideres políticos acreditam que fora do capitalismo moderno não há saída para a Europa. Logo, ondas revolucionárias aí parecem ser coisas do passado, apesar da impossibilidade de domínio e controle totais sobre os dissidentes do capitalismo europeu.
Na África, a situação da década de 1980 ainda persiste. Os graves problemas sociais e as intolerâncias étnicas e muitas vezes religiosas não permitem uma estrutura de sustentação política que ofereça estabilidade à ordem e aos consensos entre os grupos em disputa pelo poder. O resultado são as intermitentes guerras civis e a falta de solução para os problemas sociais, que têm tornado a população daquele continente nos excluídos permanentes dos benefícios da modernidade e da globalização. Aliás, para alguns estudiosos das desigualdades no mundo, as causas de tal situação se devem paradoxalmente ao padrão de modernização e globalização capitalista ocidental que é hegemônica no processo histórico em curso.
Na América Latina, temos o inicio de uma era de mudanças positivas, apesar dos percalços. O Brasil, o gigante todo-poderoso do continente, consolida a sua democracia e consegue resultados prodigiosos na economia, na distribuição da renda e na estabilidade monetária. Ele tem sido o dínamo propulsor do desenvolvimento da região. Os ideais de revolução por aqui acomoda-se na subida ao poder central do PT, um partido de fortes laços com os movimentos de contestação da ordem, mas que já produz consenso em torno da aceitação das regras do jogo e do compromisso com a estabilidade e os parâmetros de organização do mercado capitalista. O PT agora respeita os contratos, como se diz por aí...
Lideres com discursos de esquerda têm sido os preferidos nas disputas eleitorais. Há alguns mais radicais, é bem verdade, como é o caso da antiga Cuba e da Venezuela. Cuba defende com unhas e dentes o regime socialista implantado por Fidel, uma espécie de mistura entre o marxismo soviético e o populismo latino americano. Na mesma linha é a Venezuela que , todavia, sustenta a ideologia do bolivarianismo.
Nos dois casos a tradição do populismo mantém-se viva. É verdade que em muitos outros países da AL a desigualdade econômica e social é intensa, mas os estáveis regimes conservadores não são questionados em seus fundamentos, ou seja, será que a incompetência em melhorar os indicies sociais e a qualidade de vida da população não se deve exatamente ao padrão ultrapassado e velho do regime conservador no poder? É por isso que atitudes como as de Chavez e o grupo de Fidel em Cuba, sobretudo confundido revolução com autoritarismo e populismo, ainda continuam a seduzir muitos políticos e lideres de movimentos sociais na AL.
No geral, porem, as gestões de esquerda tem sido positivas diante do eleitorado, e diante de comparações com os governos da década de oitenta de matrizes amplamente voltadas para o tal consenso de Washington.
Todavia, podemos falar numa onda revolucionárias atual? Numa onda de propulsão de ideais revolucionários?
Bem, primeiro é preciso afastar as concepções clássicas de revolução e de modos revolucionários de transformações sociais, econômicas e políticas. As tais mudanças radicais têm sido menos sedutoras por conta justamente do fato de que a maioria dos países que já experimentaram mudanças profundas têm resistência muito maior em acreditar nas velhas utopias grandiosas de mudanças sociais e culturais.
De outro modo, dificilmente num país como a Alemanha o povo irá embarcar numa nova aventura para uma guerra civil ou mesmo num novo delírio militarista. A experiência histórica de um povo conta muito na contabilidade para o retorno de ideais revolucionários.
No entanto, na Alemanha há profundas indicações de atitudes e comportamentos sociais de apelo e sedução por mudanças profundas do país, sem necessariamente ter que ocorrer a quebra da ordem constitucional ou a mudança abrupta do sistema econômico. Por exemplo, a decisão do governo alemão de eliminar as suas usinas nucleares, por conta de uma forte pressão popular, demonstra que o país quer mudanças, mas controladas e racionais.
Então, o tema da revolução, da possibilidade da revolução num sentido clássico de uma utopia que promete alterações radicais e abruptas da sociedade parece inviável em muitos países. Sem dúvida, para aqueles países que experimentam ondas retrogradas de modernização, em vários casos, há países que sequer entraram na modernidade, ai sim podemos falar numa possibilidade de restauração dos ideais utópicos revolucionários.
Ainda assim, é preciso muita cautela nessa linha de abordagem porque de fato nesses países o regime político no poder nutre o seu autoritarismo e sua forma predatória de exploração exatamente no fato da penúria e miséria do povo. Logo, não é difícil de constatar que é mais provável a continuidade de guerras civis e golpes de estado do que de processos límpidos e utópicos de mudanças sociais e revolucionárias ocorrerem por ali...
Sergio Fonseca

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