quarta-feira, 6 de julho de 2011

Resenha do Livro Rumoa à Estação Finlândia/ Edmund Wilson

Rumo à Estação

The Finland Station: in the Writing and Acting of History (1940) foi pensado quando Edmund Wilson caminhava tranqüilamente pelas ruas de Nova York em 1934. Lhe ocorreu que nem o marxismo e tampouco a teoria moderna da história haviam sido expostos de modo compreensível. O título foi inspirado em To the Lighthouse (1927) de Virginia Woolf. A primeira parte do livro trata da vida e dos textos históricos de Jules Michelet, Ernest Renan, Hippolyte Taine e Anatole France. A segunda parte cobre o desenvolvimento das teorias socialistas na França, Inglaterra, Estados Unidos e Alemanha: François Babeuf, Saint-Simon, François Fournier, Robert Owen , Prosper Enfantin, Ferdinand Lassalle, Michael Bakunin, Karl Marx e Engels. A terceira parte que trata sobre a dialética, discute as personalidades revolucionárias de Lenin e trotski. Wilson demonstra, com a Revolução Russa, como as idéias se convertem em ação e prova que tal evento não foi apenas histórico, mas também intelectual. Edmund baseou-se em fontes secundárias para conceber To The Finland Station. Fundamentais foram os livros: Marx, Lenin and the Science of Revolution (1926), de Max Eastman; From Hegel To Marx (1936), de Sidney Hook; Michael Bakunin (1937), de E. H. Carr. Com vasta experiência em descrições psicológicas e dramas existenciais, não foi difícil a Wilson ir fundo em seus personagens históricos para revelar detalhes significativos de suas vidas, sofrimentos terríveis e até situações esdrúxulas quando narra San-Simon recusando-se a receber um conhecido, aos 85 anos, porque dizia que iria perder a linha de raciocínio.Marx é apresentado em toda a sua grandeza intelectual, mas também em seu sofrimento familiar por conta da penúria material em que vivia.Do ponto de vista histórico-filosófico, To The Finland Station abre mais espaço para Michelet do que para Hegel. Este sim a verdadeira fonte de inspiração de muitos movimentos revolucionários do século XIX e XX, quando baseados no racionalismo e no Iluminismo. O autor respondeu dizendo que tinha verdadeiro horror por idéias abstratas e que detestava o idealismo alemão.Wilson levou seis anos escrevendo o livro. Neste interím, ele mudou a sua visão da Rússia, de uma posição mais romântica para algo mais realista. Contribuíram para essa mudança as farsas dos julgamentos de Moscou e o papel que Stalin jogou na Guerra Civil Espanhola.Mesmo assim, porém, Wilson pemaneceu fiel a sua visão romântica de Lenin. Todavia ele conseguiu separar o seu artífice da obra. A Rússia então lhe parecia uma terra de tirania, opressão, assassinatos e derramamento de sangue. Lenin foi tido como o exemplar raro da espécie humana que coloca à frente de seus intereses individuais os sofrimentos da humanidade. Foi o altruísmo de Lenin que provocou a revolução Russa, numa clara motivação psicológica que tenta explicar porque homens e mulheres, inteligentes e competentes, abandonam tudo em prol de um ideal.Mais tarde, em 1971, quando escreveu um novo prefácio para o livro, Wilson fez mea-culpa e admitiu que não havia notado a continuidade histórica entre a velha e a nova Rússia. Não havia hiato ou tampouco ruptura profunda. A nova Rússia seguiu sendo opressiva, manteve a censura, polícia secreta, burocracia incompetente e uma brutal autocracia.O livro tentou captar a atmosfera romântica dos ideais revolucionários, porém, mais tarde, ele próprio observou o paradoxo quando se deparou com a autocracia de Stalin. Wilson não concluiu, todavia, com a prova histórica na frente, que as idéias revolucionárias têm um destino trágico. Ele preferiu concluir o livro com Lenin chegando à Russia e as idéias revolucionárias e romanticas fervilhando e motivando homens e mulheres modernos a mudarem as suas vidas.Para muitos criticos de Wilson, a tese do livro veio a público (1940) num momento errado. Stalin fazia o pacto de não-agressão com Hitler; e a invasão alemã que jogou a Rússia na guerra. Enquanto Wilson publicava o livro, a Alemanha, Italia e Japão assinaram acordos econômicos e militares, a Itália triunfava na Líbia, a França fracassava na tentativa de ocupar Dakar e Londres estava completamente bombardeada. Os românticos herdeiros da revolução que Wilson enaltecia, limitavam-se a observar os nazistas invadir, ocupar e massacrar a maior parte da europa.No Brasil, o livro apareceu em 1986. Teve um sucesso estrondoso, mas não parece que seus leitores tivessem dado conta das incongruências entre a celebração dos ideais românticos e revolucionários e a realidade opressiva dos regimes políticos e sociais inspirados em tais ideais.Somente em 1989, com a Queda do Muro de Berlim, que tais contradições produziram reflexões intelectuais mais realistas sobre os destinos trágicos dos ideais revolucionários. Wilson tinha um conhecimento estupendo, era o tipo do intelectual sobre o qual se poderia dizer que havia lido tudo. Sem dúvida, essa sua caracteristica contribuiu para que To The Finland Station se tornasse um clássico já em seu nascedouro.
Sergio Fonseca

Um comentário:

EMMANUEL 7 LINHAS disse...

É sem sombra de dúvidas extremamente didático para os historiadores. Continuo insistindo em sua leitura, indo e voltando, ruminando. Gostaria muito de ver como Wilson montaria esse mosaico a respeito da história do Brasil moderno!!